Ocorreu no último dia 06/11, na sede da Fundação da Unidade Rotária - FUR, a 23ª edição do Pritaneu, que desta feita homenageou Dom Pedro Antonio Marchetti Fedalto com o Troféu Guido Arzua dos Profissionais Notáveis e o Hospital Barigui de Oftalmologia com o Troféu Avelino Vieira das Empresas Socialmente Responsáveis, nesta ocasião representado pela Dra. Liselene Perini Monclaro, Diretora Administrativa do Hospital.
Em seleção altamente criteriosa, anualmente o Rotary Club de Curitiba Oeste homenageia pessoa e empresa, as quais apresentam vasta lista de serviços prestados à Sociedade Paranaense, entregando-lhes os Troféus supra mencionados e um Diploma de Admissão à Honorífica Ordem do Pritaneu. Os membros da Ordem são permanentemente convidados a participar das reuniões do Rotary Club de Curitiba Oeste, sempre sem ônus algum para os mesmos.
O Hospital Barigui foi o primeiro a ser homenageado, principalmente pelos mais de 15 mil crianças carentes atendidas gratuitamente pela Entidade, desde a sua fundação. O Hospital Barigui de Oftalmologia foi fundado no dia primeiro de janeiro de 1994 pelos Drs. Pedro Modesto Piccoli e Augusto Menna Barreto Monclaro, que tinham o sonho de oferecer medicina oftalmológica de ponta à cidade de Curitiba dentro de um serviço sério e responsável. O Hospital é especialista em facoemulsificação, técnica que permite que a cirurgia de catarata ocorra sem pontos, de forma mais rápida e com tempo de recuperação menor, sendo pioneiro na utilização desta no estado do Paraná.
Mesmo antes da criação do Hospital, em 1992, o oftalmologista Augusto Menna Barreto Monclaro, do Rotary Club Curitiba Cinquentenário, tomou conhecimento do Boa Visão - por intermédio do Companheiro Artur Fayntich - Rotary Club de Curitiba Batel. Ao saber do projeto, se prontificou imediatamente a ajudar. Segundo a família e os amigos, o oftalmologista sentia uma gratidão muito grande pelo Rotary por causa da bolsa de estudos de pós-graduação que ganhou da instituição. Na época em que concorreu à bolsa ele ainda não era rotariano. Monclaro passou um ano em Bonno, na Alemanha, se especializando em sua área. No retorno da viagem foi convidado a integrar o Rotary. Entrou para o Rotary Club Curitiba Cinqüentenário em março de 1985. O trabalho voluntário de Monclaro no Boa Visão simbolizava o seu desejo de retribuir o benefício recebido pelo Rotary. Além disso, ele era considerado um cidadão preocupado com as causas sociais e tinha interesse em desenvolver um trabalho comunitário. O entusiasmo dedicado ao projeto chamava a atenção dos companheiros rotarianos e colegas de trabalho.
Desde o início, o oftalmologista reservava a manhã de um sábado do mês para atender as crianças e até mesmo adultos encaminhados pelo projeto. No início Monclaro se deslocava até as escolas, igrejas e comunidades onde estavam os pacientes previamente selecionados pelos clubes. De acordo com Maria Cristina Cantarelli, que trabalhou por muitos anos como assistente de Monclaro, esse procedimento era adotado devido à dificuldade em se conseguir ônibus para transportar os pacientes para a Clínica Central de Oftalmologia, localizada no centro de Curitiba, onde Monclaro trabalhava na época. O médico passava bem cedo na clínica para pegar os materiais necessários para os exames de visão. "Era refrator, oftalmoscópio, retinoscópio, colírio, tampão, projetor… Ele ajeitava tudo numa mala vermelha e colocava no Voyage verde que tinha na época", recorda. Em algumas ocasiões, Cristina ajudou a organizar os equipamentos e o acompanhou nas consultas. "Lembro-me que fomos a lugares muito distantes, como numa capela onde foi feito um dos atendimentos. Eram crianças bem carentes, subnutridas e com o estado geral de saúde bem precário", acrescenta Cristina.
Através dos exames eram detectados os mais variados problemas como estrabismo, glaucoma, catarata, visão subnormal, toxoplasmose, infecção ocular, traumas oculares causados por agressão física, entre outros. As cirurgias eram encaminhadas para os hospitais ou clínicas que atendiam pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como o Hospital dos Olhos, Hospital das Clínicas, Hospital Cajuru e Oftalmoclínica. Em 1996, as consultas passaram a ser feitas na Clínica Oftalmológica Barigüi, onde Monclaro atendia na época. Ele obteve o sinal verde dos demais sócios para utilizar a infra-estrutura do local para examinar a clientela encaminhada pelo programa, sem custos para o Rotary ou para as pessoas beneficiadas pelo Boa Visão. Ele sempre convidava os colegas de trabalho a participar do programa. A quantidade de voluntários era variada: Monclaro chegou a atender com a ajuda de cerca de oito médicos da clínica e até de profissionais de outras instituições. Outras vezes realizava as consultas com apenas mais um oftalmologista. Também atuava sozinho sem perder a determinação. "Augusto não media esforços em seu trabalho. Lembro-me que numa manhã de sábado, quando estava me preparando para uma viagem ao exterior, ele me ligou pedindo para que fosse ajudá-lo, pois estava sozinho na Clínica com cerca de 70 crianças para atender. Eu disse que em meia hora teria que estar no aeroporto e que não teria condições", lembra-se o oftalmologista Pedro Piccoli, um dos sócios da Clínica Barigüi. Mas isso, no entanto, não o desanimou. "Augusto disse que estava tudo bem, pois iria dar um jeito de atender a todos, sozinho mesmo", completa o médico.
Em média, são selecionadas de 80 a 120 crianças por mês, sempre num sábado, para as consultas do Boa Visão. Mas já houve casos de até 170 atendimentos numa manhã. O projeto sempre contou com a atuação de outros voluntários, além dos médicos. Entre eles estão os companheiros do Rotary, os funcionários da Clínica Barigüi e a família de Monclaro. Eles ajudam a organizar os grupos, preparam os pacientes para a consulta através dos exames de auto-refração, pingam colírio, ajudam os médicos no preenchimento das fichas durante os exames etc.
Mesmo com a morte de Monclaro, o atendimento na clínica não parou. Pelo contrário, mais pessoas se sentiram motivadas a colaborar, inclusive os próprios filhos do oftalmologista, além de outros profissionais da área. "O Boa Visão era a menina dos olhos do doutor Augusto", afirma a assistente Maria Cristina Cantarelli. "Isso aqui era a vida dele, e por isso a gente precisa continuar o trabalho", completa a empresária Liselene Monclaro.
Em seguida passou-se a homenagear o Arcebispo Emérito de Curitiba, Dom Pedro Fedalto, por seus relevantes serviços em prol das pessoas mais humildes e necessitadas de Curitiba.
Dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto, nasceu na Colônia Antônio Rebouças em Campo Largo em 11 de agosto de 1926. Sua família veio de Silea, na Itália, em 1878. Descendente de avós italianos é o filho mais velho de Giácomo e Corona que tiveram 7 filhos.
Atualmente com 86 anos de idade e 46 anos de episcopado, veio aos 13 anos para Curitiba para ingressar no Seminário São José. Foi ordenado sacerdote em 6 de dezembro de 1953 pelas mãos de Dom Manuel da Silveira D´Elboux. Aos 28 de agosto de 1966 foi ordenado bispo auxiliar de Curitiba com 44 anos e escolhe o lema "Verdade na caridade". Nessa oportunidade, foi apadrinhado pelo então Prefeito de Curitiba, nosso Companheiro Ivo Arzua Pereira. Foi Bispo Auxiliar de Curitiba de 1966 a 1970, e Administrador Apostólico Diocesano, durante o ano de 1970 (após a morte de D. Manuel), sendo empossado como 4º arcebispo de Curitiba, dia 28 de fevereiro de 1971.
Para melhor evangelizar, descentralizou a Arquidiocese em quatro grandes áreas pastorais, divididas em 18 setores, contando 3 áreas aos 3 Bispos Auxiliares, reservando para si, o Centro. Deu continuidade aos planos de pastoral iniciados em 1968, publicando em 1972 o Diretório Pastoral, em 1975, o Manual do Agente de Pastoral e em 1980 publicou a Carta Pastoral sobre a Evangelização dos Fiéis, na fé e no compromisso.
Em 1975 toda a Arquidiocese viveu as Santas Missões Populares com os missionários Redentoristas, Grande marco na Arquidiocese, foi a realização do 1º Sínodo de (1987 a 1994), resultando daí um revigoramento evangelizador com a mística, que perpassa a todos até hoje: "Ser Igreja, Caminhar juntos, Participar".
Dom Pedro criou 74 novas paróquias, ordenou 174 padres diocesanos, acolheu congregações femininas e masculinas. Merece destaque no seu episcopado: a realização das Santas Missões Populares em 1975 e 2000, a Vinda do Papa João Paulo II, a Curitiba, nos dias 5 e 6 de junho de 1980.
No ano de 1998, quando toda a igreja se preparava para a celebração da chegada do Novo Milênio, foram crismados 12.352 jovens, reunindo 75.000 pessoas no estádio do Pinheirão. No ano de 2000 a realização das Santas Missões Populares.
Realizou o Congresso Eucarístico Arquidiocesano pelos 50 anos de Igreja da Ordem como Templo de Adoração Perpétua e em preparação do 14º Congresso Eucarístico Nacional.
Após Completar 75 anos, escreve a carta à Santa Sé solicitando afastamento do cargo de Arcebispo Metropolitano de Curitiba. Esse pedido só foi aceito aos 15 de maio de 2004 quando foi nomeado Dom Moacyr José Vitti.
Aos 19 de maio de 2004, após seu pedido ao papa João Paulo II deixa a arquidiocese de Curitiba para Dom Moacyr José Vitti.
CURIOSIDADES
Anjos: Pedrinho Fedalto [sobrinho, secretário e motorista] e dom Manoel da Silveira D´Elboux.
Time: Coritiba [lembra que o Coxa ganhou depois que o arcebispo rezou missa no Couto Pereira].
Piada: conta uma impublicável – é mais inocente do que "piada de freira".
Melhor presente recebido: um Astra Zero, quando se aposentou.
Saúde: "Tenho o osso do pé oco e não enxergo sem óculos".
Música: Canto Gregoriano. E sertanejo de raiz [cantarola "Lampião de gás"].
Hobby: ler livros e revistas de História.
Filme: A noviça rebelde.
Desde 2004, vive no Seminário São José, depois de se aposentar na Arquidiocese, em obediência às normas do Direito Canônico: não tinha mais idade para continuar. Gosta do lugar. Ali lhe ofereceram um quarto com escritório e duas saletas para guardar seu pequeno museu particular, cujo acervo, creiam, começou a ser reunido em 1940.
Tem como paixão dar aulas de História para os seminaristas – confessa.
Nas cinco ou seis décadas em que viveu nna Rua Jaime Reis, o religioso se tornou um dos personagens da Curitiba do século 20. A simples invocação de seu nome aciona uma espécie de "dispositivo da memória coletiva". Fedalto é sinônimo de religião. Ele mesmo custou a se dar conta do lugar que ocupa.
A revelação veio em 1980 quando, já com 14 anos de cátedra, fez as honras da casa ao Papa João Paulo II. A visita atraiu 35 mil fiéis ao Estádio Couto Pereira e, estima-se, 300 mil à missa campal no Centro Cívico. As loas eram para o "João de Deus", mas a ocasião serviu para medir a popularidade do nosso Pedro. Era altíssima: as bandeirolas erguidas para o Pontífice mais admirado de todos os tempos tremilicaram também para o filho do Giácomo e da Corona da Colônia Rebouças.
Fácil explicar: Dom Pedro é um tipo familiar, vindo "dos Fedalto". Faz parte da hierarquia católica, mas se parece àqueles vizinhos e conhecidos que são adotados como "quase parentes", uma categoria pouco estudada pela antropologia. Seus hábitos de "padre de colônia" reforçavam ainda mais essa imagem. Ao se sagrar bispo em 1966, não adotou a pompa e circunstância dos chamados "príncipes da Igreja". Manteve-se fiel às procissões, aos terços na catedral e às visitas de porta em porta. Para coroar, é simpático. Ao vê-lo do lado de João Paulo II, sua gente soube retribuir.
Na década de 1960 e de 1970, as parcelas mais ilustradas da população rotulavam dom Pedro Fedalto de conservador, uma categoria nada palatável em tempos de ditadura. Mas suas andanças pelos quartéis, em defesa dos presos políticos, o "jeitão" caloroso de "padre de colônia" e a proximidade com a cidade fizeram dele, acima de tudo, um nosso vizinho. De fato, Fedalto não se alinhou com o clero progressista – aquele que adotou a Teologia da Libertação –, mas não foi insensível ao que estava ocorrendo nos anos do chumbo. Sem dar muita trela, ele admite ter perdido a conta das vezes em que bateu na porta das altas patentes do Exército, pedindo liberdade aos presos políticos, o que incluía, claro, os chamados "padres de passeata". Dizendo "por favor" conseguiu com que muitas mulheres saíssem dos porões da ditadura e fossem para o Convento das Irmãs Franciscanas de São José ou das Vicentinas. Ele diz: "Havia razões e razões naquele tempo.
Em breve, o descendente mais ilustre do clã deve publicar um livro de memórias sobre o tataravô Jacinto e o bisavô Giuseppe. A obra tratará da época em que a Colônia Rebouças se chamava Timbituva, padecia debaixo de pestes tratadas por Trajano Reis e as resolvia à base de procissões milagrosas.
Os melhores capítulos, contudo, devem ser as que envolvem um guri educado num dialeto vêneto e um dia "convocado" a ser padre. Pedro se embrulhava em lençóis e brincava de dizer missa para os manos Ângelo, Domingos e João Batista. Mas pensou em desistir e voltar para casa. "Eu precisava ajudar os pais". O catequista, sacristão e professor Luís Lorenzi discordava. Para convencer a petizada a ir para o seminário, Lorenzi promovia folguedos que o arcebispo octogenário, hoje, conta de barato. "Lembro de ganhar balas e de brincar com os olhos vendados no terreiro da colônia." Como se tivesse tirado a venda de repente, um dia percebeu que não saracoteava mais nas ruas poeirentas de Timbituva, mas que morava no prédio da Rua Jaime Reis – depois convertido em Cúria – sede oficial de sua vida. Era 1940. Tinha 13 anos. Quando saiu em definitivo do Alto São Francisco, em 2004, somava quase 80.
O arcebispo é um ás que cita dia, mês e ano de qualquer acontecimento; que escreve, à mão, um livro sobre os bispos brasileiros; que conta a história das paróquias da Arquidiocese de Curitiba com a facilidade com que desfia os mistérios do rosário; que faz a contabilidade detalhada dos 167 padres que ordenou e das 239 visitas pastorais que fez em 44 anos de bispado e episcopado.
O concílio não fez com que o padre Pedro abandonasse as procissões na Rondinha. Modernizou-se a seu modo: a partir de 1964, liderou a "Cruzada do Rosário em Família", um movimento cristão mundial identificado com uma reação da direita à barulheira da contracultura e das esquerdas. O idealizador da cruzada era o padre norte-americano Patrick Peyton, hoje candidato aos altares, conhecido então como "padre Hollywood". Era um bom apelido: Peyton conseguia com que astros e estrelas do cinema interpretassem personagens sacros em filmes que reproduziam o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo. Em Curitiba, sobre os cuidados de Fedalto – um jovem estudioso, premiado 38 vezes nos seus seis primeiros anos de seminário, incluindo em Álgebra – o movimento ganhou método, volume e extensão. Estima-se que 4 mil pessoas viam cada sessão dos filmes de Peyton no Cine Vitória, da Barão do Rio Branco. Como se dizia, era uma coqueluche.
É provável que a capacidade de Pedro em mobilizar a população tenha colaborado para que se tornasse bispo aos 40 anos de idade – um dos mais jovens de que se tem notícia. |