Em almoço muito concorrido e em meio a muita emoção e alegria, o Rotary Club de Curitiba Oeste concedeu ao jornalista Francisco Cunha Pereira e ao médico Luiz Roberto Gomes Vialle, o Título de Pritane 1993, parte de um programa denominado Pritaneu que anualmente no mês de Outubro agracia Profissionais Notórios que apresentaram e apresentam boa reputação e ilibada conduta, no campo das atividades econômicas e sociais, públicas ou privadas.
O referido título pode ser concedido a qualquer pessoa indicada para membro do Pritaneu pelos Companheiros do Oeste e referendada pelo seu Conselho Diretor, preferencialmente a pessoas não tenham a condição de Rotariano. Porém, neste ano a indicação recaiu sobre este nobre Companheiro que, dentre inúmeros e importantes títulos, recebeu a mais alta comenda de Rotary International - "Service Above Itself" (serviço acima de si mesmo).
Ambos os agraciados por vezes emocionaram a compenetrada platéia, ao fazer referência a situações de suas vidas públicas, as quais foram determinantes para a concessão do Prêmio.
O Título Pritaneu foi uma inspiração do Diretor de RI 1983/1985 Guido Arzua, em 1990. De lá para cá já foram agraciadas as seguintes personalidades de nossa sociedade:
em 1990 o Pastor e Professor OSWALDO SOEIRO EMRICH e o Professor Dr. RICARDO PASQUINI;
em 1991 a segunda edição do Programa foi CANCELADA devido ao não comparecimento do Gov. Jaime Lerner;
em 1992 o Professor Dr. JULIO CEZAR UILI COELHO e a Professora MARIA DE LOURDES CANZIANI;
e finalmente em 1993 o Empresário Dr. FRANCISCO CUNHA PEREIRA Fº e o Médico e Prof. LUIZ ROBERTO GOMES VIALLE.
Para instituição deste notável programa, o Companheiro Guido inspirou-se na Grécia antiga, onde havia uma instituição denominada Pritaneu. Era o lugar de reunião dos Pritanes, acompanhados de grande número de funcionários públicos e certos cidadãos, a quem se concedia tal privilégio em recompensa pôr expressivos serviços prestados à Pátria. Por extensão, o Pritaneu era um estabelecimento fundado em favor dos Beneméritos da Pátria.
Conheça um pouco do Dr. Francisco Cunha Pereira
Nascido a 7 de dezembro de 1926, filho do desembargador Francisco Cunha Pereira e de Julinda. Foi casado com Terezinha Döring Cunha Pereira e pai dos filhos Francisco Cunha Pereira Neto, Guilherme Döring Cunha Pereira, Ana Amélia Cunha Pereira Filizola e Cristina Cunha Pereira.
Advogado e jornalista, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), no ano de 1949. Foi professor da própria Faculdade de Direito da Federal e atuou como advogado.
De acordo com minibiografia veiculada pela Academia Paranaense de Letras – da qual é membro – lecionou na Universidade do Paraná como catedrático interino, nas cadeiras de Ciências das Finanças, Direito Internacional privado e Previdência Social, entre outros. Atuou no Tribunal do Júri e fez carreira como criminalista.
Ainda no campo do Direito, militou na OAB, seccional do Paraná, tendo sido presidente do Instituto dos Advogados do Paraná.
Em 1962, assumiu a direção do jornal Gazeta do Povo e, tempos depois, da TV Paranaense, canal 12, firmando-se como empresário do campo das comunicações.
Campanhas que mudaram a história do Paraná
Não se sabe ao certo quando e qual foi a primeira campanha criada por Francisco Cunha Pereira Filho, mas é provável que ele tenha se iniciado na “arte da guerra” ainda na mocidade, quando cursava Direito na Universidade do Paraná. Foi em meados da década de 40.
Tudo teria começado com um debate acadêmico sobre a necessidade de fundar ginásios gratuitos para crianças e adolescentes pobres. Não ficou só na conversa. Em pouco tempo, nascia a Campanha Nacional de Educandários da Comunidade, projeto que abriu diversas escolas de Curitiba no horário noturno.
Se a cronologia estiver correta, em 60 anos de vida pública essa foi a primeira de uma série de ações desenvolvidas por Cunha Pereira em prol da educação. Não foi sua única bandeira. Ao lado da defesa do ensino, tomou a dianteira em ações de combate à miséria e ao desemprego, assim como iniciativas para lograr o desenvolvimento econômico e alavancar a representação política do Paraná. O ser e estar em campanha se tornou uma marca tão forte que ficou impossível descolar sua imagem, por exemplo, da do homem que defendeu com braço forte o recebimento dos royalties de Itaipu ou a exploração do xisto em São Mateus do Sul.
Mas ao mesmo tempo em que armava campanhas de fôlego – que lhe consumiriam anos, os nervos e inúmeras páginas de jornal – também era hábil em ações muito simples, com duração de um mês e efeito de uma vida. Pediu a seus leitores, certa ocasião, que comprassem plantas para dar de presente de Natal; em outra, que juntassem o lixo das praias e, mais de uma vez, que distribuíssem alimentos. Sugeriu até que criassem postos de trabalho, como fez debaixo do tocante slogan “Abra uma vaga em seu coração. Empregue pelo menos mais um”, em plena recessão dos anos 80.
Recado dado, retirava-se e dava início a nova empreitada. Feito ali, feito acolá, calcula-se que tenha promovido algo próximo de 30 campanhas, uma média incrível de uma a cada dois anos de sua trajetória de advogado e jornalista, antecipando-se a crises como a do gás e ao caos aéreo. Para esta edição de homenagem foram recuperados 18 capítulos dessa história – entre pequenas e grandes iniciativas. Impossível esconder o pesar diante de ausências como a campanha para aumentar contingente eleitoral do Paraná para 1 milhão de votos e a campanha pela alfabetização. De ambas sobraram poucos registros.
Também está ausente desta edição o Arenito Caiuá, que tanto beneficiou o Noroeste do estado. E algumas ações em prol da sociedade do conhecimento. Cunha Pereira, por exemplo, subiu nas tribunas para pedir a criação do câmpus tecnológico de Itaipu e que não fosse abandonado o projeto Tecpar, na CIC. Também foi mentor de projetos curiosos, como o que sugeria, didaticamente, a entronização da Bandeira Nacional nas salas de aula; e a popularíssima Bicho do Paraná, uma parceria da TV Paranaense com o extinto Bamerindus feita para valorizar os talentos da terra. A música de João Belo - “eu não sou gato de Ipanema, sou Bicho do Paraná” - virou hit.
Boa parte do êxito das campanhas se devia ao estilo inconfundível de Cunha Pereira. Seu modus operandi bem poderia ser descrito assim: ao iniciar uma nova empreitada, escolhia sempre o melhor lugar para lançá-la, como uma universidade, ou um centro do poder, como a Assembléia Legislativa.
Ao receber adesões de políticos, estudiosos e empresários, registrava-as nas páginas do jornal, comprometendo o apoiador a levar até o fim a palavra dada ao público. A prática tinha também um segundo efeito – homens do poder e afins, naturalmente responsáveis pelas grandes questões do estado – podiam não aderir. Mas bem que ficavam desconfortáveis com a omissão. As campanhas, afinal, eram conduzidas com a mesma empolgação trazida por Cunha Pereira dos tempos de juventude, quando dirigiu o diretório acadêmico do curso de Direito da UFPR.
Não era tudo. Além de saber o lugar, a hora e as parcerias certas para abrir campanha era preciso despertar o interesse dos leitores. Não poucos podiam julgar que energia, industrialização, pontes e estradas de ferro eram assuntos para governantes e não para gente comum. Para tanto, nada como palavras capaz de empolgar a população. Para dar tempero aos projetos encampados pelo jornal, Cunha Pereira os popularizava com expressões como “Maldição do nevoeiro” – no caso da falta de equipamentos no Aeroporto Afonso Pena -; “Poço da discórdia” – a propósito do petróleo dividido com Santa Catarina no Mar Territorial; ou “Holanda às avessas” - jargão que tão bem definiu o estupor diante de um Paraná alagado pelas hidrelétricas.
A esse segredo somava outro, infalível – mais de uma vez assumiu ele mesmo a frente de batalha, dando uma cara e uma voz ao projeto. Nessas ocasiões, era apontado nas ruas, cumprimentado por populares, abordado nas bancas de jornal e nos cafés da Rua XV, espaços onde as bandeiras que defendia viravam o prato do dia.
Tanto empenho tinha seu preço. Além de sustentar as campanhas anos a fio em seus veículos – sob o risco de não vê-las realizadas ou de cansar leitores mais imediatistas – fazia-se presente nos grandes debates da sociedade, como cidadão e homem de imprensa. Da mesma forma, sem cerimônia, podia se negar a participar de algum evento cuja natureza fosse contrária aos interesses do estado. Não foram poucas as recusas.
Gazeta do Povo, o espaço que guarda a história de suas causas
Nos momentos de maior tensão, a posição de Cunha Pereira podia ser conferida nos editoriais da Gazeta do Povo – espaço que guarda a história de suas causas. Foi ali que tripudiou o que chamava de “migalhas dadas ao Paraná”, estado que com tanta generosidade ofereceu à União suas riquezas, melhores terras e belezas como as Sete Quedas do Iguaçu. Com a mesma altivez, clamou por investimentos em educação, redução da miséria, geração de empregos e industrialização. Nos editoriais da página 3, festejou vitórias, como a dos royalties, e lamentou o desinteresse pelo projeto do gasoduto e a apatia de muitos paranaenses em frente de um mundo em transformação. “Vamos ser um estado eternamente agrícola?”, perguntou de certa feita, sabedor da fragilidade do campo em gerar empregos.
No mais, era manter o ânimo da tropa. Os jornalistas que encamparam com Cunha Pereira as causas paranistas tinham de estar dispostos a enfrentar cabos-de-guerra que se estenderiam por 10, 15 e até 20 anos – esbarrando na burocracia, na frieza, na ignorância e até no pouco caso estatal. Mas havia algo mais do que pedras no meio do caminho. Os que fizeram das campanhas uma causa para chamar de sua festejaram o salto triplo dado em 3 de agosto de 1986. Nesse dia, a Gazeta chegou à marca de 100.250 exemplares - reconhecidos pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC) -, a 144 páginas e a 90,3% de índice médio diário de leitura de jornais por trimestre no Paraná, de acordo com Ibope Marplan.
A marca gerou uma das muitas festas da Redação. Nessas ocasiões, Cunha Pereira passava, cumprimentando um a um. Aos que o chamavam de “doutor”, retribuía com a mesma forma de tratamento: “Obrigado, doutor”, dizia, mesmo que se tratasse de um dos piás do arquivo.
Depois do ritual, lá se ia, pronto para outra campanha, o homem que queria ter braços para construir escolas e erguer pontes, equipar aeroportos, desenvolver indústrias, promover a ciência, dizimar a violência e acabar com toda a fome que há no mundo.
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